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Zahg - Guardiola no City faz do futebol um jogo de dados

Guardiola no City faz do futebol um jogo de dados

Jul, 2023

A inteligência de dados está em plena ascensão tanto no Esporte quanto no Marketing Digital. Em ambos os casos, o que define o primeiro lugar é a capacidade humana de analisar informações e transformá-las em insights acionáveis. 

por Lucas Milanez 

Os grandes times da elite do futebol mundial estão investindo pesado na inteligência de dados e tentando desenvolver equipes data driven em todos os setores, como nutrição, preparo físico e orientação tática dos jogadores durante as partidas. E um dos principais benchmarks é a relação Pep Guardiola e Manchester City. 

Considerado por muitos como o melhor técnico de futebol do mundo, Pep acumula desempenhos incríveis em algumas das principais equipes do planeta. O patrocínio bilionário que o Manchester City recebe proporciona grandes jogadores e ferramentas sofisticadas para análise de desempenho, mas a crítica esportiva pressiona o treinador pela ausência de um título da Liga dos Campeões. Apesar dos “apocalípticos”, a ciência de dados comprova o sucesso da parceria. 

Menos espaço para achismos no futebol 

A inteligência de dados é disciplina obrigatória para vencer no esporte de alto rendimento e o clube de Pep parece levar o tema a sério. Exemplo disso foi o lançamento, no fim de 2022, do Cityplay, um dispositivo feito em parceria com a Playmaker, especialista em wearables, para monitorar a interação dos atletas com a bola. Agilidade, velocidade e até habilidades com os pés podem ser observadas, na medida em que o dispositivo é confeccionado em silicone, para ser aplicado nas próprias chuteiras. 

Outro evento marcante veio do belga De Bruyne, principal estrela do time. O jogador dispensou seu empresário e contratou uma consultoria de performance para comprovar aos dirigentes, em números e estatísticas, sua enorme contribuição à equipe. O sucesso na empreitada rendeu a ele um generoso aumento de salário e figura como indicador da eventual chegada da cultura data driven ao clube. 

Até mesmo os torcedores estão sendo colocados nesse jogo. O tradicional cachecol com as cores e escudo do clube está ganhando um sensor para monitorar frequência cardíaca, temperatura do corpo e estado emocional dos citizens. 

Esses são exemplos da relação de amor do Manchester City com os números, combinação premiada com a conquista de quatro das seis edições da Premier League sob o comando de Guardiola e o encaminhamento de mais um título na temporada 22-23. 

Guardiola é exemplo data driven 

A fissura do treinador pelo estudo aprofundado do jogo resultou num aproveitamento geral de mais de 75% e o melhor desempenho do time na história da Liga dos Campeões, o vice-campeonato em 2021. Naquele ano, o clube participava pela 11ª vez do torneio – isso correspondia a apenas 16% das 66 edições totais, enquanto o maior campeão Real Madrid, por exemplo, chegava a 77% das edições disputadas. 

Um exemplo ainda melhor, entretanto, vem do Chelsea, adversário do City na final de 2021 e que passou por um processo semelhante de injeção de capital em 2003. O clube chegou à primeira final em 2008, sua sexta participação no torneio, e o título veio apenas na décima tentativa, em 2012. 

Coincidentemente, o City “virou rico” em 2008, e também teve o primeiro grande resultado na sua sexta participação, quando alcançou as semifinais. Veja a relação completa do seu desempenho na Liga dos Campeões: 

22/23 Semifinais*
21/22 Semifinais
20/21 Final
19/20 Quartas de final
18/19 Quartas de final
17/18 Quartas de final
16/17 Oitavas de final
15/16 Semifinais
14/15 Oitavas de final
13/14 Oitavas de final
12/13 Fase de grupos
11/12 Fase de grupos
68/69 1ª eliminatória
 
*Até o fechamento deste artigo, as semifinais ainda não haviam sido disputadas. 

Perceba que, a partir da 11ª tentativa, as semifinais se tornaram comuns para a equipe. Se considerado o conceito da curva de aprendizado, o Manchester City parece estar encontrando sua “fórmula do sucesso” em um ritmo parecido ao do rival londrino. Não há certeza de que o título virá nesta temporada, porém os números comprovam que o trabalho está no caminho certo. 

Análise humana dos dados é vital, porém achismo da crítica ameaça 

Grandes resultados em Marketing Digital precisam da criatividade humana na análise e aplicação dos dados obtidos. E no futebol isso não é diferente: todos os relatórios e estudos feitos pelos analistas de desempenho seriam inúteis sem pessoas capacitadas para sintetizar essas informações e transmiti-las aos jogadores. 

A compreensão dessa dinâmica consagrou Guardiola como treinador. Ele é obcecado pela personalização da experiência e varia sempre suas escalações. “Os movimentos são diferentes, os jogadores são todos diferentes, com personalidades diferentes”, disse Pep em abril do ano passado. 

A performance como indicador 

O título europeu é o resultado-chave que falta para Guardiola acabar com a dúvida sobre seu sucesso no Manchester City. Já são anos de trabalho com extraordinários indicadores de performance, o time está amadurecendo e agora o time ainda conta com o jovem goleador Haaland como o possível definidor das bolas que não entraram no gol nas últimas temporadas. 

Para honrar seu protagonismo em inteligência de dados, o Manchester City deve seguir fazendo apenas ajustes pontuais. Pelo menos até que a vontade do atual treinador seja de permanecer no clube. 

No entanto, alguns comentaristas destacam o pensamento excessivo de Guardiola como a confissão de uma fraqueza: “Guardiola admite pensar demais na Liga dos Campeões”. 

O colunista André Rocha, do UOL, após a derrota para o Chelsea na final da Champions League, foi capaz de reduzir a competência do catalão. “E Pep Guardiola mais uma vez prova que é um treinador essencialmente de ligas, por pontos corridos”, disse André. 

Essas falas são até compreensíveis no negócio do futebol devido à grande influência da emoção no esporte. Os comentaristas esportivos dialogam com o imediatismo dos torcedores sobre a vitória de seus times do coração. 

Como no Marketing Digital, futebol também precisa de dados

 Se esses discursos não forem equilibrados com uma boa dose de ciência de dados, podem virar catalisadores de demissões equivocadas e cancelamentos, que acabam por ignorar trabalhos com grandes resultados. O achismo e o imediatismo podem cobrar caro e invalidar todos os insights acionáveis produzidos pela inteligência de dados. 

Infelizmente, no mundo dos negócios há também quem, como os críticos de Guardiola, subestimam o poder da inteligência de dados. 

Imagine essa situação: depois de alguns meses conhecendo o público-alvo por meio dos resultados de campanhas, as conversões em vendas começam a aumentar, ainda que devagar. Mas a diretoria da empresa – com pressa e alguma miopia estratégica – resolve ignorar os insights acionáveis e impõe uma mudança drástica de direção criativa das campanhas, inclusive com desligamentos de analistas de dados, profissionais de criação e destituição das gerências ou troca da agência de Marketing Digital. 

A pressão por resultados “para ontem” coloca em xeque todo o aprendizado obtido até então. Sem considerar a visão do processo, as ações deixam de ser estratégicas e a probabilidade de colher resultados frustrantes aumenta. 

É preciso saber ler dados 

Mas há quem cultive a visão além do óbvio e a sensibilidade humana capaz de transformar dados em ações comprometidas com os objetivos de um negócio. Enquanto críticos alardeavam o fracasso do BBB 23 com base em dados de audiência, Renato Camargo, VP de Marketing da Pague Menos, foi preciso ao rechaçar o suposto “desastre”. Segundo ele, apesar da baixa na TV aberta, fatores como a qualidade das inserções e o awareness nacional da marca – uma das patrocinadoras do reality – proporcionaram recordes. “A Pague Menos vendeu como nunca no e-commerce”, comemorou o VP. 

Para evitar que os dados mintam, é preciso saber lê-los. Talvez seja justamente isso que Guardiola esteja fazendo. Porém, só os resultados da Liga dos Campeões poderão dizer.

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